Oct 24, 2023
Dolutegravir
Doenças Infecciosas BMC
BMC Infectious Diseases volume 23, Número do artigo: 347 (2023) Cite este artigo
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Detalhes das métricas
Desde janeiro de 2017, o esquema antirretroviral de primeira linha recomendado no Brasil é a combinação de dose fixa de tenofovir mais lamivudina com dolutegravir (TL + D). De acordo com a literatura, mutações associadas à resistência à integrase (INRAMs) raramente são encontradas após falha virológica para dolutegravir de primeira linha mais dois inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa. Avaliamos o perfil de resistência genotípica aos antirretrovirais do HIV de pacientes encaminhados para genotipagem no sistema público de saúde que falharam TL + D de primeira linha após pelo menos seis meses de terapia em ou antes de 31 de dezembro de 2018.
As sequências de HIV Sanger do gene pol foram geradas a partir do plasma de pacientes com falha virológica confirmada para TL + D de primeira linha no sistema público de saúde brasileiro antes de 31 de dezembro de 2018.
Cento e treze indivíduos foram incluídos na análise. INRAMs maiores foram detectados em sete pacientes (6,19%), quatro com R263K, um com G118R, um com E138A e um com G140R. Quatro pacientes com INRAMs maiores também apresentavam as mutações K70E e M184V no gene RT. Dezesseis (14,2%) indivíduos adicionais apresentaram INRAMs menores, e cinco (4,42%) pacientes apresentaram INRAMS maiores e menores. Treze (11,5%) pacientes também apresentaram mutações no gene RT selecionado por tenofovir e lamivudina, sendo quatro com ambas as mutações K70E e M184V e quatro apenas com M184V. As mutações L101I e T124A da integrase, que estão na via in vitro para resistência ao inibidor da integrase, foram encontradas em 48 e 19 pacientes, respectivamente. Mutações não relacionadas a TL + D, portanto prováveis mutações de resistência transmitida (TDR), estiveram presentes em 28 pacientes (24,8%): 25 (22,1%) para inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa, 19 (16,8%) para inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa , e 6 (5,31%) para inibidores de protease.
Em contraste marcante com relatos anteriores, relatamos uma frequência relativamente alta de INRAMs entre pacientes selecionados que falharam no TL + D de primeira linha no sistema público de saúde no Brasil. Possíveis razões para esta discrepância incluem atrasos na detecção de falha virológica, pacientes inadvertidamente em monoterapia com dolutegravir, TDR e/ou subtipo infeccioso.
Relatórios de revisão por pares
Regimes antirretrovirais contendo inibidores de transferência de fita integrase (INSTIs) demonstraram ter maior eficácia, segurança e menos interações medicamentosas para o tratamento inicial da infecção pelo HIV do que regimes contendo inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (NNRTI) ou inibidores de protease ( PI) [1,2,3,4,5,6]. Consequentemente, todas as principais diretrizes de tratamento do HIV atualmente recomendam a inclusão de INSTIs como parte dos regimes de primeira linha.
Em 1991, o Brasil tornou-se o primeiro país de renda média a fornecer acesso gratuito e universal à terapia antirretroviral (ART) a todas as pessoas vivendo com HIV (PLWH) que se qualificam para o tratamento. Seu Ministério da Saúde (MS) atualiza periodicamente as diretrizes desenvolvidas por um painel consultivo independente. Desde 2014, essas diretrizes recomendam que todas as PVHIV iniciem a terapia, independentemente dos sintomas ou da contagem de células T CD4+ [7].
A partir de janeiro de 2017, o esquema de primeira linha recomendado no Brasil é a combinação em dose fixa de tenofovir 300 mg genérico mais lamivudina 300 mg, associado a 50 mg do INSTI dolutegravir (DTG), esquema conhecido como TL + D. DTG é um INSTI de segunda geração com alta barreira genética à resistência e poucas interações medicamentosas [8, 9]. Além disso, em ensaios clínicos e programas de implantação de saúde pública em grande escala, mutações no gene da integrase associadas à resistência antirretroviral raramente foram descritas após falha virológica de regimes contendo DTG de primeira linha [2, 9, 10].
Embora o monitoramento da carga viral seja feito a critério do médico assistente, as medições com intervalos inferiores a seis meses são necessárias para que os pacientes continuem recebendo antirretrovirais pelo sistema público de saúde brasileiro [7].